À Queima- Roupa
Cláudio Hermínio
Começar uma história de amor é fascinante! A paquera não revelada, o primeiro beijo, o timbre de voz que nos toca profundamente, o piscar dos olhos e a expressão de todo o corpo que arrebata-nos a libido. É como tirar os sapatos, caminhar por entre as pedras e a terra incandescente e mesmo assim, ter a sensação de ter sido massageado por inteiro. Neste momento descobrimos ser parte do todo, e tudo aquilo que parecia fugaz aos nossos olhos se torna visível: " O olhar sobre o horizonte sendo comido pelas montanhas, às gafes cometidas em excesso pelo companheiro ou companheira, as noites mal dormidas, o odor da bebida que exala entre quatro paredes quando estamos a sós." E a música? Aquela música! Que na maioria das vezes escolhemos para selar a união... Mas o tempo foge e com ele os pequenos detalhes, quando percebemos o embrulho do presente já não é mais o mesmo, vem polido pela erosão, o nome que soava forte aos nossos ouvidos agora dói ao ser chamado pelo diminutivo: " Paulinho, Pedrinho, Claudinha." Já não bastasse, ressuscistam-se os provérbios ou ditados populares: " Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar...". Difícil aceitar que a narração de acontecimentos agora são histórias em quadrinhos com legendas apagadas, podendo ser contadas apenas por meras fotografias empilhadas nas gavetas da cômoda, que certamente serão devoradas pelas traças. Não é necessário ser muito inteligente para saber que não há mais volta. Nesta hora somos surfistas acostumados às ondas do mar, mas incapazes de surfar.